sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ela não sabe onde pisa

Hoje falaremos da nossa companheira, sim ela. Essa criatura perigosa. Ela que se finge de morta e se esconde, bem, enfim... Vamos falar de nossa querida aranha. Nossa companheira como todos sabem pode ver muitas coisas. Porem uma coisa eu posso afirmar.
Nossa querida companheira tem uma franqueza. Ou vocês pensam que ela é imortal? Sim ela tem franquezas.
Olhando-a soberana, vocês não diriam isso, não é? Mas eu sei que, apesar de ter até oito olhos (dependendo da espécie), nossa querida colega não enxerga tudo. Mesmo estando com todos os seus olhos abertos, ela não vê tudo. Uma coisa tão próxima que nem consideráramos. Ela não vê o chão. É, o chão. Eu sei você nunca tinha parado para pensar nisso antes. Até faz sentido que não, mas eu já.
Porém, não pense isso como uma bobeira qualquer. Pense que ela não sabe onde pisa.

Emanuelle Sotoski

De repente viro com o meu cefalotórax para cima. Sinto que sou completamente frágil, minhas patas não possuem força para afastar o urso que veio me amedrontar, veneno onde?
Se foi. Não consigo ver meu tórax, muito menos meu órgão sexual, onde está meu canal de prazer, mão me toco porque não sei onde fica, precisaria de patas elásticas para me fazer uma cosquinha. A vida de cabeça para baixo é tão desinteressantes quanto a vida de cabeça para cima, meus pensamentos é que ficam próximos do chão, meus pés é que ficam próximas das estrelas, pelo menos não caio, corpo e pensamento dissociados entre o céu e a terra, a terra engole meus pensamentos, de acabar com o mundo. Os pés conversam com os anjos pelados que pedem permissão para descer, aqui na terra seu órgão sexual vai ser coberto por uma caixa com o selo dos correios e mandado para outro lugar, aqui não pode o órgão se mostrar bonito e com vontade, só dentro da caixinha.
Me vire, o mundo se destruirá em 1 minuto. Alguém me vire senão a terra vai querer brincar de dominó, e eu não quero porque esse jogo é muito antigo. Quero poker na Internet e meus amigos virtuais.

Rubia

Lado neutro, obscuro, existe porque sinto presente nas articulações, no tecido epitelial. Mas do que há na escuridão do olho fechado? Medo.
360°: Aqui está. Não tem nada. Posso seguir. Para frente. Para a direita. Ahhhhhhhhhhhhhh!!!! Um pé!
360°: Meus reflexos demoram 180°.
Medo (ao quadrado).
360°: o lado oposto. O corredor escuro. Penumbra.
360°: Corredor claro.
Já não sei contar os graus, degraus. Degraus na fenda do chão. Ruído. Toc! Toc! É uma batida ou a pata que se movimentou sem que eu tenha visto. Pé. Corrida. Vejo o vão da porta que me serve como saída de emergência. Quantos graus para sair por ela?
Qual é o grau de complicação de ser caolho?
Menos alguns olhos? Tantos olhos não me definem quantos graus para a saída. Tudo bem, a saída é grande. De tantos a tantos graus escapo do pé que insiste em me pisar! A cada lajota, uma nova rua. A cada rua, um novo mundo. Meus olhos me mostram ruas. Umas que se misturam com outras e outras tão distantes uma das outras, mas todas juntas, visivelmente juntas aqui. Quero uma apenas. Fecho, fecho, fecho. Onde está o semáforo que estava agora mesmo nessa rua?
Pééééééé (alarme)
Abre aqui! Não percebe que se você escolher fechar apenas um olho, verá uma miragem e não a realidade? Quem disse que eu não quero ver miragens? Cuidado, que uma parede pode querer se erguer. Não tenho medo de perder mais algumas janelas. Mas assim você vai acabar virando uma mula da lenda. Aquela que não tem cabeça!
Hummmmmmmm!!! Você sabe como isso aconteceu?
Será que ela bateu muitas vezes a cabeça até se desintegrar?Alguém arrancou, ou ela nasceu assim? Ou porque ela é do folclore e tudo que é do folclore tem defeito de fábrica, para me provar que o mundo é realmente concreto?
Aaaaaaaaaaai!
Ih! Não sei, nunca soube, vou pesquisar!
O que foi?
Chutei uma pedra com a úlima pata.
Acho que sangrou!
Consegue ver?
Ta tudo bem!
Posso seguir?
Sim, fale!
Não, o caminho!!!
Ah ta, tchau!

Rubia

Minha mãe sempre disse que era proibido. E eu não ia, era proibido. E eu queria e era proibido. Era sempre assim: escola de manhã (seno a cosceno b seno b cosceno a) e almoço (e tudo muito leve) e a tarde muita ginástica e treinamento: 1 e 2 e 3 e 4 e 5 e 6 e 7 e 8 1 e 2 e 3 e 4 e 5 e 6 e 7 e 8 E a noite: E eu não ia E era proibido E eu queria E era proibido E no outro dia: Seno a Cosceno b 1 e 2 e 3 e 4 Seno b Cosceno a Não ia/ Proibido/ Eu queria/ Proibido Fui de mansinho de asa leve e no fundo, lá no fundinho: VOCÊ ACREDITA EM AMOR À PRIMEIRA VISTA? Eu sinto, foi de ambas as partes pois ela imediatamente me envolveu, numa paixão tão completa e louca e fuminante que tudo em mim parecia imóvel. Eu queria estar cada vez mais perto, cada vez mais intenso, olhar no seus olhos e sentir o coraçãozinho pulsar, num momento único. EU HAVIA ME ENTREGADO COMO NA PRIMEIRA VEZ. E então ela se aproximou e com seus olhos... E então ela viu que eu já era todo seu... E então ela foi me tomando pedacinho por pedacinho... E então eu já estava dentro dela, completamente. PERDIDAMENTE E daqui de cima eu entendo que, na verdade, ela está, e sempre esteve de olhos e coração fechados. ASS: Mosquitinho apaixonado

Ligia

Eu queria ser cega!
Eu queria ser cega dos olhos!
Eu queria ser cega dos olhos e da memória!
Eu queria ser cega do coração!
Porque não? (eco)
Porque não? (eco)
Voz: Porque não, oras!
Eu só queria ter um amor, amorzinho... Pra poder dormir de conchinha no inverno!
Voz: O inverno já passou!
Só se for pra você... É tudo tão difícil... Eu nunca, nunca consigo amar alguém, eu sempre tento, tento e tento mas é aquele detalhezinho que sempre me incomoda... Que finjo não ver... Mas vejo!
Voz: O problema é que você vê no escuro!
Cala a boca... Me deixa em paz
(Silêncio)
Porque não? (eco)
Porque não? (eco)
(ela chora dias e dias a fio, passa a chuva, passa o sol e passa a vontade de fiar)
Voz: O problema é que você vê no escuro!
Mas eu tento, eu juro que tento. Eu fecho todos os meus olhinhos e abro só um ou dois pra transmitir sinceridade... Mas... Mas... Mas é justo esse olhinho aberto que vê o defeito!!! A barba mal feita, o cabelo despenteado... Humpf!!! Eu queria ser cega, sabia?
Voz: O problema é que você enxerga no escuro!
Ah! Você não sabe de nada!!!
Voz: O problema é que você vê no escuro, você enxerga com o coração!
Como assim? Meu coração tem olhos????
Voz: seu coração enxerga no escuro, no claro, no obscuro e no iluminado...
Mas eu não quero que ele enxergue
(continuação: ela se apaixona pela voz, pois não consegue vê-la)

Ligia 

ESTA PEÇA - A OUTRA


Esta peça é sobre caminhos, é sobre andar por eles e com olhos e não com pés...
Esta peça é sobre ângulos e medidas: 1 xícara de imagem a cada 10 possibilidades
Esta peça é sobre o que você quiser! É sobre o que a sua imaginação escolher. Ésobre cada caminho que nossos olhos percorrem...
Esta peça é sobre mim, sobre você, sobre o catador de papel lá fora!
É sobre o catador de papel que levou naquele rascunho uma visão do poeta, uma caminho do leitor, um papel para reciclagem.
Esta peça é sobre a capacidade de chorar ou capacidade de rir ou de fazer tudo ao mesmo tempo...
Esta peça é sobre fechar os olhos...
Esta peça é sobre abrir os olhos...
Esta peça é sobre piscar!!!
Eu pisco, Tu piscas, Ele pisca.
Esta peça é sobre a necessidade de ser EU, VOCÊ e TODOS NÓS.
Esta peça é sobre SOBRETUDO tudo.
eu não sei o que dizer....
essa peça é tudo que eu quero e tudo que eu acredito....
agora..depois do baque, eu consigo pensar mais, e me inspirar, e eu percebo que nosso trabalho vai por esse caminho de idéias.. mesmo... só tem essa organização com elas... sacou?
quero te ver hoje, amanha e depois.. quero falar sobre essas coisas..
por favor..
que dia?????
quero falar com você, da peça, quero falar com a peça de você.. quero você e ponto.
Essa peça é sobre ser sublime, sobre ser grotesco.
Essa peça é sobre finais trágicos. ou sobre finais patéticos. comédia bufa!
Essa peça é sobre peças e por baixo delas.
Essa peça é vem do meio da roda da bicicleta.
Essa peça é pra que você peça ou reinvindique a tua presença na tua vida.
Essa peça é sobre entrar e sair. E entrar. E sair.
Saia, e caia na gandaia.
A sua mente novamente.
amiga, essa peça é sobre algo que ainda nao sei dizer o que é, mas q tirou nao apenas meu chao mas os meus orgaos do lugar, mexeu comigo a ponto de eu querer fugir das outras pessoas,um estado de completo reconhecimento de mim mesma. Nunca uma atriz me teve tanto em suas maos qto aquela mulher vestida de azul, ela podia fazer o q quisesse comigo pq eu era inteiramente dela, corpo, alma, energia, e tudo o q venha ser eu. Não sei como esas coisas acontecem mas ontem vi q acontece, tirar do lugar comum é isso, hj sou outra, e ainda estou me refazendo do turbilhao que passou por mim, será q é isso q o artaud fala da peste? Me senti completamente invadida pela peste... nunca vi atores mais do q a vontade em cena, sem cartas na manga, desnudos ali, inteiros tomando cada parte de mim.. me deixando imovel... não sei o q aconteceu, mas algo mto grande aconteceu, e não tenho como dizer outra coisa a nao ser estou completamente apaixonada pela magica apresentada diante meus olhos, isso é teatro??? pois é isso q quero... bjs amiga sei do q esta falando!

Ligia e  Rubia

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