sexta-feira, 26 de setembro de 2008

a arte subverte a linguagem porque antecipa o próximo sistema de linguagem

Nós vivemos em um mundo em que tudo é puro discurso. A realidade não é objeto, e sim o objeto representado. Eu represento qualquer coisa através do discurso bem elaborado. E isso implica na fragilidade da verdade. Porque as coisas são voláteis, são instáveis.

O real é aquilo que escapa à linguagem.

A imagem que nós temos de nós mesmos é algo construído. Não nos enxergamos. Só podemos ver o outro. A nossa auto-imagem é mediada pelo espelho.

Só é possível haver comunicação quando emissor e receptor interpretam signos dentro de um mesmo código. A língua, por exemplo, é um código. Pois código é um conjunto organizado - sistema - de sons, imagens, signos. Mas se o código é social e histórico raramente partilhamos do mesmo. Isso gera o ruído.

"A palavra é a morte da coisa", Foucault
"A linguagem é fonte de mal-entendidos." Pequeno Príncipe
"Todo texto carrega uma contradição", Bahktin
"O herói virou um homem fragmentado", McLuhan

Nina Rosa Sá

O HERÓI VIROU UM HOMEM FRAGMENTADO

Eu sei que tudo isso começou assim porque eu te causei uma espécie de fascínio imagético. Porque eu te hipnotizei, como se hipnotiza uma serpente com o som da flauta. Eu te fascinei com a imagem que eu projetei pra você a partir do que eu sou, do que eu era. E você ficou paralisada. Presa. Mas esse tipo de fascínio passa. Você se libertou de mim. Você se libertou quando percebeu que a imagem não era a essência. E eu sei que essa mala embaixo da cama está aí há muito mais tempo de forma não-concreta. A idéia da mala está aí desde que a imagem se dissolveu. E isso já faz muito tempo. Muito mais tempo do que o dia em que você tirou todas as roupas do armário, colocou-as na mala e escondeu tudo debaixo da cama. Concretamente isso aconteceu apenas na semana passada. Mas nós sabemos que essa mala está aí há vários meses.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Cai a luz

- Minhas mãos estão ardendo.
- Venha deitar. Você teceu demais ontem.
- Não posso. É hora de começar. E agora que sei... simplesmente não posso.
- Eu me preocupo.
- É meu dever. Não posso deixar que você me impeça.
- Claro... (pausa) Você deve compreender meu amor. É um caso de sobrevivência.
- Se você construisse sua própria teia...
- Você sabe meu amor. Não é da minha natureza. Além do que mais, eu não quero trocar minha vida pela sua.
- Desculpe. Apenas não é uma questão de escolha. Eu preciso fazê-lo.
- Bom, eu ainda posso tentar... nos salvar na luz.
- Por que você está fazendo isso? Você sabe. Eu trabalho o dia todo. Você tem apenas duas horas. Pra que adiar?
- Eu não sei exatamente. (pausa) Talvez seja por quantas mais 22 horas eu estiver com você. Talvez eu seja um mártir. Talvez goste de desafios. Ou tenha orgulho de ser uma presa grande; frutífera e protéica. Talvez tenha nojo de tudo isso e seja doente. Eu não sei. Apenas preciso fazê-lo. (pausa). Venha, me abrace. Ah, não chore, meu amor. Shiii... Eu ainda estou aqui. Temos 22 horas agora.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

um certo homem maquina


Tudo começa como começa qualquer historia. Do nada pessoas se reúnem em busca de uma aventura. Elas terão altos e baixos. E haverá momentos em que se suporá que não chegaram ao fim. Mas no fim farão algo fantástico. Elas não sabem e por isso sofrerão. Mas já está tudo escrito. E dentro de 6 meses tudo em suas vidas irá mudar. Mas antes de começarmos a aventura férias porque ninguém é maquina. A não ser um futuro conhecido.
Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Prontas pra começar?
- ainda não.
-por que?
- peguei varicela.
Quando voltei tudo tinha mudado. Alguém fazendo campanha política, outras atrás das mulheres de Picasso ou Vincius.
Es então que surge nosso Deus tocando ao fundo Enia e tudo o que tiver direito – Nina Rosa Sá. Com nosso ex-futuro conhecido agora atual senhor maquina. E ela não tinha se afogado. E o seu coração era um relógio. Naquele instante meu coração bateu mais forte, ou foi o cérebro? As vezes a coisas que vc não entende mas mesmo assim te pegam.
Lembro de cada carinha. E se fossemos desenhos animados a Thaisa teria concerteza no lugar da cabeça um ponto de interrogação.
Apresentados os personagens passaremos ao próximo capitulo. AS RAIAS.
Sim nos fazíamos montinhos e adorávamos os abraços não eram nada mal. E as imagens – corre, anda, deita, pula, pula, pula, pula, não isso é outra peça. Mas o que é mesmo que heiner muller queria dizer? Cri. Cri. Cri. Mas o que é mesmo que nos queríamos dizer? As paredes se destroem entre nos. E no meio de tudo isso SP. 1 vez por mês lá e outra cá. Não, não era o masp é só uma torre vermelha. E andar das clinicas ao trianon foi moleza. Queria ter ido ate o fim- da paulista.É já faz 2 anos. O mais surpreendente de tudo foi que na Sé encontrei o Suplicy. As lembranças ficaram meio escuras, mas ainda estão aqui. É só puxar uma que elas voltam.
Capitulo 3: Não vai dar certo.
Ensaios cancelados, atrasos e paciência, muita, muita, muita paciência. Mas vc lembra das imagens?
Catchup/ livros/ peixes/ melancia/ cruz. Ah tinha também o frango assado, farofa só lá no final. Sapatos/carne/ tic-tac/ki-suco. Ingerimos tudo erguemos as mãos pro céu e demos gloria a Deus. Afinal estávamos fudidas e mal pagas, ou melhor, estávamos pagando pra fazer tudo isso. Enquanto uns tem demais outros.... e por isso vieram os tombos. Como o da Ligia no corredor. Não menina ai não é lugar de ensaiar.
Chega o momento de nossa pausa Dramática . Ele geralmente vem antes de um momento importante, um momento que se deseja que todos prestem atenção. O momento de um silêncio ensurdecedor. Não nessa pausa não há silencio.
- Vamos é preciso encher os pulmões. 1 , 2, 3. Eles já não tem força e cada enchida é mais espaçada. E não é o silencio que ensurdece. É o barulho. Tudo que eu queria era gritar bem alto PARA.Acabou não há mais nada a fazer. Agora só me resta fugir para não ver o que vem a seguir. A dor vai junto. 1/2/3 piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
E tudo que eu não queria era cantar: _ Dorme minha pequena...
Eu sai por ai e quando voltei havia um abraço. Que não esperava precisar. E é com esse abraço que termino essa pausa porque depois disso nada é igual.
A peça já tinha estrutura. O balé precisava de ensaio, mas pra uma punk nada é impossível. Sim, vc vai ser uma emo Ligia. Peruca rosa e cabelão. Em duas semanas de ensaios em um certo teatro de manha. Muitas risadas. E dor. Mas conseguimos manter a pose. por varias musicas. Eu falei que a gente teria muitas quedas.( não os pequenos cisnes não cairão . quase mas só depois do catchup).
Vocês sabem que precisam de direitos.
-não recuso os meus. Brigada.
Não deu. E mister sorrisinho no fundo teve uma pontinha de culpa. Mas so la no fundinho. Embroilios , mas tudo resolvido se não fosse uma espécie a qual não lhe agrada Roberto Carlos. Calma nada vai se putrefazer.
- você me deixou aqui pra morrer
-ah?
- você me deixou aqui pra morrer?
-Eu te deixei e fui correr?
- vocês me entendem ne?
- não, não entendo. Acho que vc tomou morfina demais..
- eu so quero chorar.
- não tem que fazer a farofa
no final viramos um grupo musical. Capa do disco ficou ótima.
E essa peça na verdade era um roteiro gastronômico e tudo sempre terminava com café.

Emanuelle Sotoski

Xuxa


E se a Xuxa casasse com o Pelé. Quem seria o rei dos baixinhos?
- O Maradona

É. Isso é multiolhar.

Sim, porque alguns vêm a Juliana Paes, outros um chinelo ou só a infância. E isso tudo é multiolhar.

Há coisas que não precisam ser ditas

Há coisas que não precisam ser ditas. Estão todas ali. Vc tem todo o material de que precisa. E como num quebra-cabeça vai montando peça por peça. Mas aqui não há regras, vc organiza como quiser. As escolhas são suas.

Por favor, não me diga com palavras. Não com as óbvias. Eu quero o inesperado. Eu não preciso ver sangue pra ver que acabou, balas já me dizem isso.

No fundo eu não quero que vc me diga nada. Quero que vc se vá. Simplesmente desapareça. Pronto. Acabou. E só assim poderei sonhar. Pensando que na verdade vc não me deixou. Não. Na verdade você foi atingida após uma batida violenta entre dois carros em que um deles perdeu o controle enquanto atendia a uma ligação boba, nada importante demais. E que enquanto os carros viravam na da pista, tudo que vc tentava era se proteger. Mas o um dos pára-choques, que agora não vem ao caso qual, atingiu suas pernas. E seu corpo foi projetado pra cima. Vc voou por alguns segundos. Na queda, seu crânio não foi forte o suficiente pra suportar o choque. Provocando uma rachadura que fez seu cérebro desmanchar na pista em meio a vidros quebrados e sangue. Uma morte instantânea e sem despedidas. Essa é uma possibilidade que não descarta a em que você pode ter tomado um copo de veneno que não era pra vc. Simples e letal. Sim, eu poderia facilmente pensar assim. Mesmo com os armários limpos.

A minha imaginação preencheria as lacunas como eu quisesse. No fundo eu espero que vc não diga. A coisas já são óbvias demais.

Emanuelle Sotoski

Não. Isso não terá um final feliz

Não. Isso não terá um final feliz.
Eu e vc sabemos disso.
É, isso é o fim.
E a narrativa começa aqui.
Agora só falta o adeus, que terá que esperar até amanhã.
Agora é tarde.
Anoiteceu.
Não há mais tempo.
Não se vê muito além.
Eu e vc sabemos o que vai acontecer.
Não estamos envolvidas.
Assim é mais fácil.
Ver de outro ponto é sempre assim.
O referencial não é o mesmo.
É isso muda tudo.
Não sei mais o que é esquerda ou direita.
Só o que é certo.
Sim, torcemos por uma reviravolta.
Porque de longe tudo é lindo.
Depois de uma longa discussão a porta vai abrindo pra alguém sair, então se fecha abruptamente. E vem um beijo. Ele não é comum, parece em câmera lenta, um pouco mais próximo que o normal. Nas janelas se vêem gotas de chuva escorrendo. A trilha sonora cada um escolhe a sua.
Mas nada disso acontece, a porta bate, cada um vai pro seu lado.
E, olhando de dentro, talvez esse seja o final feliz.

Emanuelle Sotoski

Ver

Ver.
Hoje não vejo nada e acho que isso é visível.
Algo me tapa a visão.
Não, não é um tapa olho.
Meus sentidos estão comprometidos.
Já não ouço direito, o paladar não é um espetáculo, os outros eu não lembro. Só que são 5 .
Não, eu não sou o menininho do filme. Porque todo mundo morre e pronto.
As lacunas existem. Depois é só organizar tudo isso como quiser.
Eu te vi Dona aranha e vc tinha as 8 patas.
Distúrbios: Psicológicos, Digestivos, Visionários: Não vejo o que vem pela frente.
Eu odeio quando a luz pisca. Mas é preciso preencher as lacunas.
Monto a minha própria TV. Ela não é automática, nem digital. É visual. É preciso muita força pra ela continuar existindo. Vc fez um programa. Vc não era a baba do Caco. Mas só tinha pernas. E isso bastava.
Cada vez menor, e menor, e menor.
- Eu tô virando criança.
- Não, é só o filme acabando.
- Mas ainda quero dançar.
- Então eu filmarei. Pra ficar pra posteridade. Porque depois tudo acaba e pronto.

Emanuelle Sotoski

em qual parte do pé eu encontro o ponto remedial dos olhos?


por favor, alguém acende a luz?
eu tenho apenas 15 minutos e por isso eu corro, eu corro muito pra chegar a tempo... os pés são olhos e o pensamento os pés... eu corro muito. tem que dar tempo!!!ela tem preceitos: somente olhos nos olhos! e por isso eu twnho pouco tempo, apesar de saber que o que olhos não vêem o coração não sente!!! por isso eu prefiro o escuro. eu tenho certeza que a dor vai ser menor! você sabe quais as palavras! você sabe da mala pronta embaixo da cama. e o tempo é muito curto. porque^porque eu tentei arrumar os fios e fazer as coisas se acertarem, mas não, eu levaria décadas... e você não possui mãos habilidosas nem pra acertar os ponteiros do relógio! eu corro, eu corro muto... eu fecho so olhos pra esquecer a dor! tem que ser hoje, e o dia ta acabando...
penso na lâmpada pra trocar, no interruptor pra consertar, na vela sem pavio e então o teu olhar na penumbra da casa me barra: hojee é tarde demais... dois minutos e a luz se foi. a mala continua embaixo da cama, e você sabe: só olhos nos olhos.
- venha dormir, já está tarde... você me parece cansada, o dia foi cansativo?

uma lágrima no olho esquerdo responde tudo.
- não foi nada! só o relógio que insiste em mudar os ponteiros de lugar.

Ligia

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