sábado, 27 de junho de 2009

estrutura e idéias

Quais são as profissões das pessoas?
Os gostos?
O passado?
O presente?
O futuro?
O que elas estão fazendo aqui?
Ou o que não estão (garota que se matou no apartamento)?
Qual a história dos lugares?
Colocar uma culpa na platéia, um influência dela sobre os transeuntes.
Observar a rotina do espaço e aproveitar-se dela.
Dar histórias ao próprio narrador.
Narrador dentro da caixa.
"Você nunca reparou, mas o gari sempre passa pelo lado que você não está olhando".
Trabalhar com as referências do público: "esse cara sabe o que você fez no verão passado"; "Aquele é fã do Steven Hawkens".
Tipos de história: desde frases curtas até grandes epopéias.
Binóculos.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A platéia entra. Há fitas amarelas no chão delimitando o local e as voltas da fila. As atrizes posicionam a platéia em fila dupla. Começam um senso: VOCÊ É A PESSOA PREFERIDA DE ALGUÉM? SIM? NÃO? VOCÊ TEM ABSOLUTA CERTEZA, QUASE CERTEZA, ACHA BEM PROVÁVEL, ACHA POUCO PROVÁVEL? Depois de um tempo uma outra atriz fala ao microfone com voz de comissária de bordo. Ela tem este mesmo tom todo o tempo. Durante toda a sua fala, outras duas atrizes fazem a demonstração.

BOA NOITE SENHORAS E SENHORES, MEU NOME É MOÇA E ESTAREI COM VOCÊS DURANTE TODA ESSA VIAGEM. PEÇO A TODOS QUE NESSE MOMENTO COLOQUEM SUA MÃO DIREITA NO OMBRO DIREITO DO COMPANHEIRO QUE SE ENCONTRA A SUA FRENTE. ESTIQUE O BRAÇO, EXATAMENTE COMO DEMONSTRAM NOSSAS COLEGAS, E FIQUEM A ESSA DISTÂNCIA. MUITO OBRIGADA SENHORAS E SENHORES. AGORA VOCÊS PODEM RELAXAR SEUS BRAÇOS MATENDO A MESMA DISTÂNCIA DO COMPANHEIRO DA FRENTE. AQUELES SITUADOS À DIREITA DE ALGUÉM, POR FAVOR, DOBREM SEU BRAÇO ESQUERDO COM A MÃO NAS COSTAS. O COMPANHEIRO DA ESQUERDA PODE COLOCAR SUA MÃO DIREITA DENTRO DO CÍRCULO DO BRAÇO DO COMPANHEIRO DA DIREITA, EXATAMENTE COMO DEMOSNTRAM NOSSAS COLEGAS. MUITO OBRIGADA SENHORAS E SENHORES, QUEIRAM POR FAVOR AGORA SEGUIR NOSSAS COLEGAS PELO CAMINHO DELIMITADO PELA LINHA AMARELA. LEMBREM-SE DE MANTER A DISTÂNCIA CORRETA. NESTE MOMENTO DA NOITE COMEÇA A CHOVER. QUEIRAM POR FAVOR PROTEGER SUAS CABEÇAS E FAZER O CAMINHO DE VOLTA EXATAMENTE COMO DEMONSTRAM NOSSAS COLEGAS. MUITO OBRIGADA SENHORES E SENHORES, MAS A CHUVA ACABA DE PASSAR E ENTÃO SEGUIREMOS NOSSO CAMINHO NORMALMENTE. GOSTARÍAMOS DE ATENTAR PARA A PRESENÇA DE COBRAS NO CAMINHO. PEÇO QUE O COLEGA DA DIREITA FAÇA A GENTILEZA DE SEGURAR O COLEGA DA ESQUERDA NO COLO. POR FAVOR, SENHORAS E SENHORES, ESSA É UMA MEDIDA DE SEGURANÇA QUE DEVE SER RESPEITADA PARA QUE POSSAMOS GARANTIR UM ATENDIMENTO MAIS EFICIENTE APLICANDO ANTÍDOTOS EM APENAS METADE DA PLATÉIA. AGRADEÇO SEUS ESFORÇOS E AGORA SEGUIREMOS CAMINHO NORMALMENTE. BASTA PASSARMOS TRANQUILAMENTE PELO TÚNEL (as outras duas atrizes iniciam um túnel de braços). ESTE TÚNEL É O MAIS LONGO DE SUAS VIDAS. É POR ELE QUE VOCÊS PASSARÃO DURANTE MUITO TEMPO, TEMPO NECESSÁRIO PARA DECIDIR ONDE ELE ACABA.

Começa uma música eletrônica de festa junina. As duas atrizes não deixam o túnel parar, sempre entrando e saindo do outro lado. A luz vai baixando e ficando mais agitada, como em uma balada. O túnel acaba. A música pára. Estamos em um jardim.
O que eu procuro? O Aleph. O Zahir. O Santo Daime. Tento aprender com os antigos ensinamentos passados oralmente das culturas do leste. Sempre tive a impressão que lá vêem a origem da luz porque é para lá que ela caminha. Por essa constatação é que visto o branco puro. Mas venho do oeste onde não há leis e todos querem governar. Todas as vezes em que desejei abandonar o peso que carrego, fui consumida pelo ciúme ao ver que os outros se apoderavam dele. Fui percebendo que não adianta jogar ao mar pois alguns dedicam toda sua existência a habitar o meio do nada a procura de descartados em condições de uso. E elas sempre estão lá, as condições, o terreno propício. Então aquele que optou pela leveza começa a sentir o pesar do frio. Talvez o ar fresco arda nas peles que desenvolveram suas próprias alergias no decorrer da vida. Talvez sejam justamente essas peles que tanto anseiam por ele. Quanto mais se ignora as coceiras e o frio, mais vergões criam-se. É se tomado pela cólera por ter-se despido. Procuram-se então novos bens. Sai-se em busca de tecidos finos. Tenho certeza que esta empreitada me desvia a atenção de minha principal, mas nem aguardar nem persistir tem funcionado. Conto com o acaso. Sonho que viro a esquina e me deparo com a luz que vem em minha direção. Ela passa abruptamente por meu corpo, expande os poros e então sei vai. Eu não me preocupo. Agora conheço sua origem e sentido. Posso criá-la.
INCITE O AMARELO DO MARACUJÁ!!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Horários da Peça


Sexta 20/3 - 0 Horas
Sábado 21/3 - 18 Horas
Domingo 22/3 - 21 Horas
Terça 24/3 - 21 Horas
Sexta 27/3 - 0 Horas
Sábado 28/3 - 18 Horas
Domingo 29/3 - 21 Horas

Teatro Experimental da UFPR (Campus da Santos Andrade)

Mostra Novos Repertórios

sábado, 29 de novembro de 2008

As ruas de Bagdá ou Aranha marrom não usa Roberto Carlos


As ruas de Bagdá ou Aranha marrom não usa Roberto Carlos é um espetáculo sobre as várias visões que podemos ter sobre uma mesma situação, revelando um jogo ora divertido ora reflexivo. Poético e não realista, o público caminhará sob o fluxo do pensamento, como insights, flashes que se cruzam e permeiam uma só questão: O que vemos é realidade ou ilusão?
É um jogo interessante, parte cômico, parte trágico, que apresenta na metáfora da aranha, com até 08 olhos, as várias possibilidades de visões que temos e oferecemos o tempo inteiro. Parte-se do pressuposto de que a realidade é algo tão pessoal e único como as impressões digitais.
O texto surgiu, como um meio da ACRUEL Companhia de Teatro falar do cotidiano, de nossos questionamentos e visões sobre ele. Discussões tomadas de forma múltipla, pela própria subjetividade de cada componente do grupo, que se coloca e vê de forma diferente o mundo, resulta numa dramaturgia criada colaborativamente - através de source-work, improvisações e escrita automática.
O espetáculo já teve uma pré-estréia na 4ª Mostra Cena Breve em Curitiba, onde teve uma ótima recepção da crítica.

Crítica: Mistura e Manda por Valmir Santos


As colagens com imagens projetadas ao fundo em diálogo com o texto que tem as manhas de antagonizar “maçaroca” e “muriçoca” sem perder a elegância remeteram de chofre à escrita icônica de Valêncio Xavier no seu excepcional Mez da grippe, dos anos 80, livro que inclusive ganhou versão para o palco em julho passado, no Novelas Curitibanas, pela Pausa Companhia e direção do convidado Moacir Chaves, do Rio.
Deixou boa impressão, para não perder o trocadilho, a participação da recém-nascida e curitibana ACRUEL Companhia de Teatro com a cena Aranha marrom não usa Roberto Carlos. As atrizes-criadoras Emanuelle Sotoski, Lígia Oliveira e Rubia Romani poderiam sucumbir à muleta da projeção de imagem. A sinopse até sugere uma poluição visual com o bombardeio de informações na ordem do dia, mas a grata surpresa é que o trabalho transcendeu à própria teia que vem tecendo.
“As palavras começa a me faltar. Precisamos nos comunicar por pensamentos. Me ouçam”, diz uma das intérpretes em certa passagem, pelo menos é o que deu para anotar. A dramaturgia não é um tobogã para deslizar os lugares-comuns. Antes, faz destes uma angústia existencial interdita, sufocada pelo tudo para ontem na era das tecnologias digitais.
A correção dos figurinos e gestual alinhados de aeromoça, na abertura, carregando suas malas cheias de cebolas picotadas em seguida, causam estranhamento que abrem os códigos da fragmentação narrativa. A apropriação do kitsch televisivo, dos clichês da sedução publicitária, adicionam critica à irreverência explícita. Que essa dramaturgia colaborativa estilhaçada, sem ser inorgânica, consiga ser mantida na constituição da peça propriamente dita. Há que ser cruel sem perder a brochura. Ah, sim, e encontrar a projeção de voz que falta quando a moça fala do fundo do palco e nos sopra fiapos.

Valmir Santos cobriu teatro para a Folha de São Paulo (1998 - 2008). Colabora com críticas para a Revista Bravo!. Integra o júri paulista para o Prêmio Shell de Teatro.

domingo, 9 de novembro de 2008

Sobre Velhas e Novas Fotos - Da teia de Bagdá a Mosca na Sopa






Aranha não é pirata, aranha não faz guerra. Nem tudo é o que seus olham vêem. Aranha não é pirata, aranha não faz guerra. Emaranhados de fios que deveriam levar luz acabam levando escuridão, aranha não faz pirataria, aranha não faz guerra. Quem sofre com a escuridão provocada pela longa teia elétrica não é vilão, nem mesmo é pirata, mas é vitima, é triste, é mosca presa na teia da guerra. Pirata rouba ladrão, pirata rouba mocinho, pirata rouba de tudo, seja no mar ou seja na terra. Pirata também faz teia, mas pirata não é aranha, pirata não tem oito olhos , não tem pernas e nem come mosca. Já a mosca é secundária nessa teia falsificada, mas ela também tem olhos, milhões de olhos divididos em dois, mas a mosca não é aranha, nem mesmo é pirata, a mosca é apenas vítima da guerra. Olhando com outros olhos aquela teia colossal, não é coisa de pirata, nem é coisa de aranha, mas é o fardo da guerra. Curioso mesmo, é que a teia, que pode ser da aranha, do pirata ou da guerra, pega sempre a mesma mosca, com milhões de olhos representados em dois e milhares de cidades representadas em uma. Como fazer para aliviar o sofrimento do mísero inseto? Talvez torcer para que o mundo pare de se preocupar com a teia, e comece a se preocupar com a mosca, seja ela vítima da aranha, do pirata ou da guerra. Alguém pode, por favor, acender a luz?

Fale com a minha mão!

- Então mão direita? Nada como um dia após o outro. Justo você que sempre me criticava de ser tão controladora, não é que comete o mesmo mal?
- Não me amole, de todos os meus problemas o que menos me preocupa é o seu sarcasmo.
- Hahaha. Que bom que o mundo gira. Tome cuidada mão direita, para resolver os seus graves problemas está utilizando os meus princípios, outrora tão criticados pela sua intelectualidade e que após esta turbulência pode lhe provocar uma grande dor de cabeça. Algo como uma ressaca mental.
- Você fala como se nunca tivesse errado. Você só sabe de teoria e no fundo inveja minha praticidade que fez o tal mundo girar.
- Isso são coisas dos seus olhos. Seus mesmos olhos que me acusava de pedófilo, de drogado, de robô.
- Pois, ora, mão esquerda, se seu mundo fosse perfeito não estaria sentada em ruínas, torcendo para que meu destino seja igual ao seu.
- No meu ponto de vista o seu mundo já era, enquanto meu mundo nunca foi, mas será, no futuro do indicativo.
- Pois bem, por isso o homem, como ser humano, primata, tem dois olhos. Um olho para cada mão.
- No meu olho você está patética neste disfarce de mão esquerda.
- No meu olho, o seu fracasso foi o melhor que poderia ocorrer à humanidade. Como queria que prosseguisse a complexidade das relações sob a égide da sua batuta?
- Eu nunca fracassei, se quer estive próximo das relações ideais. Fui envenenado antes pelo seu veneno negro, que até hoje atinge os meus restos mortais.
- É fácil me culpar. Porque não culpa a mente humana pelo seu fracasso.
- Já disse que nunca fracassei.
- Isso depende do olho. Cada mão com o seu olho.
- Pois bem, e é melhor assim, olho direito para mão direita, olho esquerdo para a mão esquerda. Assim como a aranha que tem oito olhos para as suas oito patas, o ser humano tem dois olhos para suas duas mãos.
- Lá vem você querendo controlar tudo de novo. Quem disse que o ser humano tem apenas dois olhos.
- O do século XX tinha.
- E o homem do século XXI?
- Esse talvez só tenha um olho...o seu.
- E tomara que continue assim. Mundo moderno benzinho.
- Quem é você pra me falar de modernidade?
- Sou a mão do século XXI
- Depois desse seu descontrole de tentar controlar, tome cuidado. Rompimentos de paradigmas geram marcas que nem mesmo o seu dinheiro pode curar. Surgirão outras mãos, ainda neste século, e quem sabe até eu retorne?
- Então volte como outro olho, esse seu já ta gasto.
- Mas me resta alguma coisa para ver o seu declínio.
- Tá gasto e burro. Realmente crê que este é o fim? Já passei por coisas piores.
- Mas nunca foi controladora.
- Já fui, só adicionei o Neo e fingi que não era comigo.
- E o que vai fazer agora? Colocar o fim?
- Isto é relativo. Talvez eu ponha um acento, mas não se preocupe, o meu mundo se auto-sustenta.
- Isso são coisas dos seus olhos Torcerei para que neste século, as mãos vindouras não cometam nossos erros.
- É...talvez sim, talvez não. Quem sabe no seu olho, talvez um dia, você entenda que eu nunca estive tão errada?
- Mas precisava causar tanto sofrimento?
- Faço a mesma pergunta pra você...

Pedro Paulo Beaklini

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